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Exposição permanente

Resistir é Vencer

Resistir é saber reconciliar divergências do passado para enfrentar desafios presentes e futuros

A Exposição Permanente do Arquivo e Museu da Resistência Timorense, Instituto Público, (AMRT, IP.) pretende dar a conhecer, de modo necessariamente breve, a história da Luta de Resistência do Povo de Timor-Leste, evocando os seus principais momentos e protagonistas, recorrendo soluções museológicas e, sempre que possível, à sua representação audiovisual. Os meios audiovisuais que a acompanham são outro elemento de informação complementar.
Não se esgota aqui, como é óbvio, a História da Resistência Timorense. Compete precisamente ao AMRT ir recolhendo e divulgando novos contributos e testemunhos, novas abordagens, que possam enriquecer a Memória Luta.
O AMRT programa organizar com regularidade exposições temporárias que ilustrem diferentes momentos da História de Timor-Leste, contribuindo para o seu estudo e conhecimento.
O percurso da Exposição Permanente está organizado nos seguintes grandes espaços temáticos:
Átrio - Recolha da Documentação da Luta e reabilitação do edifício

Aqui o visitante pode visualizar dois filmes:

  • Um retratando dos trabalhos, iniciados em 2002, de Recolha da Documentação da Luta que se encontrava nas Montanhas e nas Vilas, à guarda de membros da Frente Armada, da Frente Clandestina e das populações. Estes Fundos Documentais, (documentos em papel, registos fotográficos, cassetes áudio, vídeos e objectos pessoais, acondicionados em baús, malas e sacos) corajosamente escondidos do ocupante durante anos e anos – bem sabendo os seus guardiões que a descoberta de uma simples mensagem significava a morte de toda a família, a chacina duma aldeia -  constituem o núcleo central do Arquivo e Museu da Resistência Timorense.
  • Um outro filme documentando o processo de reabilitação do edifício, hoje sede do AMRT, situado junto do Palácio do Governo e do Parlamento, e ladeado pelo Liceu e pela Universidade, De linhas sóbrias e traços da imponência característica dos edifícios públicos da época colonial portuguesa, foi usado como espaço administrativo durante a ocupação militar indonésia, e parcialmente destruído e incendiado durante os acontecimentos de Setembro de 1999, aberto ao público a 07 de Dezembro de 2012.

1. Administração Colonial portuguesa

Breve retrospectiva da administração colonial portuguesa, assente numa estratégia de tentativa de dominação do Povo Timorense recorrendo frequentemente à força, trabalhos forçados, punições, e alianças locais. Apesar de sucessivas campanhas de “pacificação”, a administração colonial portuguesa sempre enfrentou a revolta organizada do Povo timorense, fazendo jus à sua tradição guerreira, recusando a dominação estrangeira na defesa dos seus valores culturais.

2. Independência

Portugal, 25 de Abril de 1974 – Formação dos Partidos Políticos

A Revolução dos Cravos: progressão do MFA em direcção ao Carmo - Capitães Salgueiro Maia (ao centro), Tavares de Almeida (direita) e Alferes Miliciano Maia Loureiro. Foto: Alfredo Cunha, in www.casa.comum.org)

O golpe militar em Portugal, que derrubou o regime fascista, abriu novas perspectivas em todas as colónias, suscitando esperanças de liberdade nos povos sob domínio colonial, que há anos travavam uma guerra de guerrilha pela sua autodeterminação.
Em Timor, criam-se Associações e partidos políticos, assumindo preponderância a UDT, a ASDT, posteriormente transformada em FRETILIN, e a APODETI, defensora da integração de Timor-Leste na Indonésia.
Lisboa, com fracos interesses no território e na Região, e geograficamente distante, encetou um tímido processo de descolonização. Jakarta e a Austrália há muito que, secretamente, disputavam entre si as riquezas do petróleo e do gás do Mar de Timor.

Proclamação Unilateral da Independência, 28 de Novembro de 1975
Na madrugada de 11 de Agosto de 1975, horas após ser empossada a primeira Comissão Administrativa Regional surgida das eleições, a UDT, cuja Direcção tinha sido minada secretamente por agentes indonésios infiltrados, com o intuito de lançar o caos no território, e tal servir de pretexto para as suas pretensões de invadir a Ilha, levou a efeito um Golpe armado, tomando posição em Dili e noutras localidades. A FRETILIN ripostou com o Contra-Golpe, no dia 20 de Agosto, passando rapidamente a  assumir o controlo de todo o território. 
Na iminência da Invasão militar indonésia em larga escala, com pretensões anexionistas sobre o território, e com o apoio declarado da Austrália e dos Estados Unidos da América, a FRETILIN vê-se na contingência de proclamar unilateralmente a independência, a 28 de Novembro de 1975, numa derradeira tentativa de obter apoio internacional contra a anunciada agressão estrangeira.

Texto da Declaração Unilateral da Independência de Timor-Leste, proclamada pela FRETILIN. 28 de Novembro de 1975.

 

Cerimónia da proclamação unilateral da independência da República Democrática de Timor-Leste, em frente ao Palácio do Governador. Distinguem-se Nicolau Lobato, Francisco Xavier do Amaral, e Rogério Lobato em primeiro plano. 28 de Novembro de 1975.

3. Invasão - 7 de Dezembro de 1975

Desembarque de militares indonésios em Dili durante a invasão de Timor-Leste. 7 de Dezembro de 1975

A Invasão em larga escala, a 7 de Dezembro de 1975, envolveu milhares de homens dos vários ramos das forças armadas indonésias e meios militares (aéreos, navais e terrestres), tendo sido precedida por operações clandestinas nas zonas fronteiriças de Timor-Leste.

Consumada a invasão militar do território, e o controlo de grandes áreas, as forças militares de Soeharto encontram inesperada resistência das FALINTIL – braço armado da FRETILIN – que combatiam tenazmente o invasor.

As comunicações com o exterior eram feitas exclusivamente através da Rádio Maubere, que deixou de emitir em Setembro de 1978, “momento do alinhamento” do seu responsável, o Ministro da Informação e Segurança, Alarico Fernandes, com as forças indonésias, cujo receptor se encontrava baseado na Austrália.

Este aparelho encontra-se exposto neste espaço, tendo sido entregue à guarda do AMRT por Mari Alkatiri -  Ministro de Estado para Assuntos Políticos da RDTL e Plenipotenciário, Representante da FRETILIN no Exterior, e Primeiro-Ministro da República Democrática de Timor-Leste no I e VII Governo Constitucional, Secretário Geral da FRETILIN  - em Agosto de 2016, durante a Conferencia Internacional sobre “Memória e Identidade Nacional - Vozes da Resistência”. 

Fuga para as Montanhas

Com a Invasão em larga escala, no dia 07 de Dezembro, iniciava-se um trágico processo de deslocação e evacuação maciça das populações, prolongando-se até 1979, cujos números, centenas de milhar, ainda hoje não são conhecidos com precisão.

Paralelamente a estas evacuações espontâneas, outras houve organizadas pela Resistência, por um lado para proteger o Povo, por outro a fim de assegurar a sua segurança e pôr em prática o seu programa social revolucionário.

Destruídas as Bases de Apoio, as forças militares indonésios puseram no terreno  “acções de limpeza” e declararam Timor-Leste “pacificado” em Março de 1979… No entanto, a Resistência renasce das cinzas e reorganiza-se, prosseguindo corajosamente a Luta contra as forças invasoras até alcançar a independência da sua Pátria, em 1999, e obrigar à sua retirada.

Populações refugiadas nas Montanhas. c.1977

Fome e morte

Crianças subnutridas em consequência das sucessivas operações militares indonésias e perseguição nos anos de 1977 a 1979.

Segundo números oficiais indonésios, em 1974 viviam em Timor-Leste 653.211 habitantes e esse número baixara, em 1978, para 498.433 habitantes. Só nos primeiros 4 anos de ocupação, Timor-Leste perdeu mais de 23% da sua população.

4. Frente Armada

Marcha de guerrilheiros para um novo acampamento durante o cessar-fogo. Áreas de Maubai, Viqueque. Março de 1983

As FALINTIL lutaram até às suas últimas forças, numa clamorosa desproporção de meios. Após as campanhas de “Cerco e Aniquilamento”, todas as bases tinham sido destruídas, restando nas montanhas acampamentos isolados de civis e militares.

Após a destruição da última Base, Matebian, na Ponta Leste, um pequeno destacamento de sobreviventes, dirigido por Xanana Gusmão, desencadeia um moroso processo de reorganização da Luta, estabelecendo, em finais de 1979, uma rede de contactos e criando assim as bases das redes clandestinas.

Neste espaço encontra-se uma colecção de objectos, armamento e rádios de comunicação usados pelos guerrilheiros, e que fazem parte integrante do núcleo museológico do AMRT.

De igual modo, aqui é possível visualizar um filme que documenta um assalto dos guerrilheiros a uma coluna militar do ocupante, liderado por Taur Matan Ruak, Chefe do Estado-Maior das FALINTIL, em Asalaitula, área de Vikeke. (colocar data exacta)

Nesta área o visitante pode aceder a um touchscreen, onde, para além duma pequena história ilustrada sobre os 24 anos do conflito, dirigida especialmente às novas gerações, é possível consultar materiais integrantes do Arquivo.

5. Frente Clandestina – Movimento Juvenil

Keri Laran Sabalae, Secretário do Comité Executivo da Luta/Frente Clandestina-CEL/FC, sintonizando notícias no seu abrigo em Kuluhun, Dili; ao seu lado, o livro de José Ramos-Horta recém publicado, “Amanhã em Dili”, e a M-16 destinada a Konis Santana. 1994.

Para além dos painéis dedicados à Sala Frente Clandestina – Movimento Juvenil, que travavam a luta nas Vilas, convivendo diariamente com o ocupante, destaque para o papel das Mulheres na Luta, no Mato, nas Vilas, e no Exterior,  e para a Igreja Timorense, sempre ao lado do seu Povo durante o longo período da guerra.

O massacre do 12 de Novembro assume especial destaque, podendo aqui visualizar-se o filme de Max Stahl, registo histórico que percorreu o Mundo e projectou internacionalmente a causa do Povo Timorense pela Autodeterminação.

Neste espaço encontra-se um conjunto de vitrines contendo roupas, calçado e objectos pertencentes a jovens assassinados pelas forças militares indonésias, cujos cadáveres foram exumados em Fevereiro de 2008, no Cemitério de Hera, Posto Administrativo de Cristo Rei, Município de Dili.

Esta parte expositiva é da responsabilidade do Comité 12 de Novembro, e só foi possível graças à cooperação entre as duas entidades.

A localização dos mortos e desaparecidos no Massacre do Cemitério de Santa Cruz, a juntar a tantos outros massacres ao longo dos 24 anos da selvagem ocupação militar de Timor-Leste pelas forças de Sohearto, sempre foi uma preocupação do Comité 12 de Novembro.

Assim, em 2008, foi realizada uma operação conjunta que contou com a colaboração de uma Equipa Forense da Universidade Vitória, Austrália, coordenada por Soren Blou, de uma Equipa Forense Argentina e a da Equipa Forense da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), com o apoio do Comité 12 de Novembro, permitiu a localização de 16 cadáveres, 12 dos quais já forma identificados e entregues ao Governo da RDTL e aos respectivos familiares. Quatro ainda se encontram na Casa Mortuária do Hospital Nacional Guido Valadares, Dili.

Entretanto, com o esforço dos familiares, e o apoio do Comité 12 de Novembro, foram descobertos mais 11 cadáveres, dois duas quais do Massacre 12 de Novembro – um em Menehat, Manatuto, e o outro em Bidau Massaú, Dili); outros nove foram localizados em Rai Metan, parte Ocidental da Estátua de João Paulo II, Taci Tolu, que não faziam parte da Lista de mortos e desaparecidos do 12 de Novembro.

6. Frente Diplomática

Conferência de imprensa da Delegação Externa da FRETILIN, distinguindo-se Roque Rodrigues, Mari Alkatiri, Abílio Araújo, José Luís Guterres e José Ramos-Horta. c.1980

A componente diplomática da Resistência Timorense foi um factor importante da luta contra a ocupação e pela independência.

Desde os primeiros momentos, a Frente Externa denunciou o genocídio e a violação dos direitos humanos em Timor-Leste, lutando nas instâncias internacionais, especialmente junto da ONU e dos países de língua oficial portuguesa, e articulando com os movimentos de solidariedade a defesa da causa timorense.

Para além da Prisão Xanana Gusmão, destaca-se a atribuição do Prémio Nobel da Paz ao Administrador Apostólico de Dili, D. Ximenes Belo,  e a José Ramos-Horta, Representante Especial do CNRM no Exterior, momentos de viragem da Questão de Timor-Leste na arena internacional.

7. Solidariedade

Manifestantes com faixas e cartazes marchando nas ruas de Colombo, Seri Lanca, em prol da libertação de Timor-Leste. 07 de Dezembro de 1994.

Os movimentos de Solidariedade para com a causa de Timor-Leste surgiram por todo o Mundo, constituindo elemento de forte pressão internacional para a resolução do conflito armado, desde Indonésia, Austrália, Estados Unidos da América, a Portugal, Inglaterra, e tantos outros países.

8. Consulta Popular

 Os resultados da Consulta Popular, realizada a 30 de Agosto de 1999, foram anunciados pelo Secretário-Geral da ONU em Nova Iorque, Kofi Annan, ao princípio da noite de 3 de Setembro, e pelo seu Representante Especial, Ian Martin, em Díli, na manhã de 4 de Setembro, pelas 9 horas de sábado: 21,5% dos eleitores votaram a favor do regime de autonomia especial e 78,5% contra.

9. Setembro Negro

Anunciados os resultados, os militares indonésios e as milícias fizeram matanças indiscriminadas, homicídios em massa, e assassínios individuais; mortes brutais, sendo muitos abatidas com catanas.

Ao partir de Timor-Leste, as TNI destruíram 70% das suas principais infra-estruturas, habitações e outros edifícios, arrasando aldeias inteiras e saqueando os bens dos timorenses.

Estes momentos dramáticos da história de Timor-Leste, estão também documentados num vídeo que bem ilustra a violência das milícias e militares Indonésios que assolou todo o território, provocando milhares de deslocados, centenas de mortos e feridos.

10. Sala Multimédia

Nino Konis Santana, Chefe do Conselho Executivo da Luta/Frente Armada-CEL/FA, com uma M-16 no cimo do Monte Leo Laku, Kailaku, Maliana, durante a reorganização e formação da Região-4/Fronteira. Outubro de 1994

Aqui - onde se encontra uma réplica do Abrigo subterrâneo em Mirtuto, Ermera, base do Chefe do Conselho Executivo da Luta/Frente Armada-CEL/FA, onde viveu desde 1994 até 11 de Março de 1998, data da sua morte -  é possível visualizar um filme num ecrã de grandes dimensões, contendo uma narrativa histórica dos heróicos 24 da Luta de Resistência do Povo Timorense pela Autodeterminação de Timor-Leste.

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